segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Disney

Sem dúvida, dos desenhos da Disney que eu assisti, a Bela e a Fera é o que eu gosto mais.

Bela não nasceu princesa. No desenho, era filha de um inventor, e mercador (de suas invenções) portanto, uma burguesa. A Fera era de origem nobre, com características próprias da nobreza. Rancorosa, arrogante, prepotente, insensível... Por isso foi enfeitiçado, segundo a versão da Disney, por uma mendiga, que, diante da negativa de abrigo no castelo, se revelou uma bruxa, capaz de condenar a Fera a pagar por seus atos impensados e cruéis.

Eu particularmente gosto desse desenho por ser a Fera quem é a personagem mais fraca. Apesar de morar num castelo, com serviçais à sua disposição, ricas tapeçarias e armaduras, a Fera é um ser frágil sob a condição de um encanto que lhe subjugou. Ela está à mercê do acaso, do improvável e quase impossível: modificar-se para se conquistar o amor verdadeiro de alguém.

A Fera representa a feiura, mas nesse desenho também representa características masculinas valorizadas numa sociedade, que se modificou. A força bruta já não é capaz de cativar uma pessoa estudada e esclarecida. A burguesia veio valorizar e disseminar o conhecimento, através da leitura acessível e o financiamento de invenções.

Outra característica que o difere dos outros contos da Disney, é o fato de ser a personagem feminina a personagem libertadora. É a personagem masculina que se encontra aprisionada, necessitando da donzela que a liberte. Há uma inversão de papeis, que somente pode ser garantida pela característica ativa da Bela, sempre questionadora, inteligente, decidida, parte em busca de uma vida melhor, dos seus sonhos. Não se contenta com uma vida no interior.

Há também um evidente deslumbramento que pode ser constatado quando se apresenta um personagem burguês e outro nobre. A burguesia na História, admirava a fartura e a riqueza (fácil) da nobreza. Enquanto o burguês se sustentava pelo seu próprio negócio (o que exigia trabalho), e enriquecia por meio dele, o nobre ja nascia rico por determinação real. Era como uma dádiva celestial, pois advinha de um desejo e decreto d'um rei, 'eleito' por Deus (que era representado pela Igreja).

Os burgueses se rebelam contra a Fera no desenho. Partem numa revolta contra o castelo. Mas a Fera ja está mudada, já não merece ser degolada, decapitada, queimada ou sofrer outro tipo de penalidade. A revolta dos camponeses e burgueses é impulsionada por Gaston, que o que não tinha de inteligencia, tinha de esperteza e astúcia. Mais uma vez é o bem contra o mau.

E finalmente, após a completa transformação da Fera num lindo príncipe, desta vez desencantado, a plebéia Bela se torna nobre. Casam-se Fera e Bela, simbolizando a ascenção tão cobiçada pela burguesia aos padrões da nobreza.

Veja o filme:



ps: na verdade eu só estava procurando uma música instrumental, mas acabei escrevendo um post..

Hugs!

3 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Adoro esse desenho , nunca tinha pensado nos pontos da sua análise.

Muito bom ^^

Unknown disse...

Nunca tinha pensando por esse lado. Maravilhoso.

Abraços